Fortaleza: A Reafirmação do Patrimônio no Pici e o Legado de uma Gestão Visionária

Em um movimento que solidifica décadas de dedicação e um minucioso trabalho jurídico e administrativo, o Fortaleza Esporte Clube alcançou um marco patrimonial de singular importância. A instituição tricolor concluiu a regularização do terreno que abriga sua icônica sede no Pici, garantindo a plena e incontestável propriedade do espaço que serve como coração do clube. Este patrimônio, outrora sob a salvaguarda da Associação de Amigos do Fortaleza (Asa Forte), foi formalmente reintegrado ao escopo do Leão, abrindo um leque de possibilidades estratégicas para o porvir do tradicional time cearense.

A Saga da Proteção Patrimonial

A gênese desta complexa situação remonta às turbulentas décadas de 1980 e 1990, um período de severas adversidades financeiras para o Fortaleza . Visando resguardar seus bens mais valiosos, uma transação estratégica foi efetuada em 1995: a sede do Pici foi transferida para a Asa Forte. Esta associação, composta por ilustres torcedores e beneméritos da época, como Flávio Novaes, José Raimundo Costa, Carlos Rolim Filho e Manoel Guimarães, foi concebida com o propósito primordial de proteger o patrimônio do clube contra potenciais perdas em meio ao cenário de dívidas.

"Em 1995, o Fortaleza fez uma transação de vender a sede para uma associação de torcedores beneméritos. Na época, a Asa Forte foi feita com um caráter de proteção ao patrimônio do clube. E até hoje a sede do Pici estava em nome dessa associação"

Esclarece Germano Palácio, diretor jurídico do Fortaleza , sublinhando a natureza defensiva daquela medida histórica.

Foto: (Renan Ferreira/FEC)

A Complexa Jornada de Reversão

A chegada de Germano Palácio ao clube em 2017 marcou o início de uma meticulosa empreitada jurídica. A partir daquele momento, sob a liderança do então presidente e atual CEO Marcelo Paz, foram iniciados os procedimentos para reverter a titularidade da sede do Pici de volta para o nome do Tricolor, um processo que exigiu paciência e persistência.

O desafio era considerável, dada a inatividade da Asa Forte e a necessidade de legitimar a doação. A equipe jurídica embarcou em uma verdadeira caçada para localizar os membros da associação, muitos dos quais já haviam falecido, tornando a tarefa ainda mais laboriosa. Após inúmeras assembleias envolvendo os sócios, em um esforço colaborativo, a Asa Forte formalizou neste ano a doação da sede de volta ao Fortaleza . Com este ato, a associação encerrou suas atividades, e o patrimônio retornou à sua legítima casa.

"Havia uma questão cartorária e administrativa a se resolver. A Asa Forte estava praticamente inativa, então para resgatar o patrimônio, tínhamos que fazer uma assembleia geral e legitimar a doação. E para isso, fomos encontrando membro a membro, alguns já haviam até falecido, então foi algo mais trabalhoso. No fim, foram marcadas inúmeras assembleias com os sócios em um trabalho feito a várias mãos. Neste ano, a Asa Forte fez a doação da sede de volta para o Fortaleza. E aí eles encerram as atividades, e o patrimônio volta pra sua casa"

Detalhou Germano Palácio, descrevendo a complexidade da operação.

Horizontes Expandidos: O Futuro do Pici

A reincorporação da sede ao patrimônio do Leão ocorreu sob a modalidade de doação, o que significou a ausência de despesas diretas para o clube, com os custos limitando-se a impostos e taxas cartorárias. Com a sede do Pici agora integralmente regularizada em nome do Fortaleza e completamente livre de quaisquer ônus ou dívidas, as perspectivas para o desenvolvimento estrutural e imobiliário do clube se ampliam exponencialmente.

"Na prática, agora, o Pici é nosso. Não estava no nosso nome, mas agora está. E a partir disso o Fortaleza pode fazer muitas coisas. Novos investimentos, por exemplo, sejam eles estruturais ou imobiliários. Agora temos um lastro financeiro que abre possibilidades. Seria possível, por exemplo, fazer um alargamento do terreno, comprando um terreno do lado para incorporar"

Exemplifica Germano, delineando as novas oportunidades que se apresentam para o clube.

O Legado e a Visão de Liderança

O CEO Marcelo Paz expressa sua satisfação com o feito, classificando-o como um momento de profunda relevância histórica para a organização administrativa, estrutural, financeira e corporativa do clube. A conquista reflete uma gestão comprometida com a solidez institucional.

"Precisamos agradecer primeiro ao tricolor Flávio Novaes, que foi tudo dentro do Fortaleza. Presidente, diretor de futebol, treinador, conselheiro, coordenador do pleito eleitoral do clube, e outras funções. Fundador da Associação Asa Forte, que durante anos foi guardião do patrimônio do Fortaleza, e que devolve agora à Instituição a rubrica do terreno principal do Centro de Excelência Alcides Santos. Que por coincidência ou uma benção do destino, originalmente foi doado pelo pai do atual presidente tricolor, José Rolim Machado, que também faz parte de toda essa vitória. De papel passado, o patrimônio volta oficialmente para o Fortaleza, como tem que ser"

Declarou Paz, enaltecendo o papel crucial de figuras como Flávio Novaes e José Rolim Machado, pai do atual presidente, na história e na concretização desta vitória patrimonial.

Para o diretor jurídico, que dedica quase uma década ao Fortaleza e, como torcedor apaixonado do Leão do Pici, testemunhou as dificuldades do clube, este feito representa uma realização pessoal e profissional.

"O Fortaleza é um sonho de criança realizado. Na época dos anos 1980 e 1990 eu via a preocupação do clube, mas como torcedor. Ver isso se tornar realidade hoje me deixa realizado. A inquietude do presidente Marcelo Paz não vai parar aí, ele quer deixar o Fortaleza muito melhor em todos os níveis"

Finaliza Germano, expressando sua satisfação e a ambição de Marcelo Paz em elevar o Fortaleza a patamares ainda mais elevados. A formalização da propriedade do Pici é, portanto, mais do que um ato burocrático; é a reafirmação de um legado e a promessa de um futuro promissor para o clube.