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Expulsões por Facções em Fortaleza: O Mapa da Violência na RMF

Por Redação FutFortaleza em 03/11/2025 01:52

Um levantamento alarmante revela que setenta e oito bairros, distribuídos em oito municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), foram palco de remoções forçadas de residentes, orquestradas por grupos criminosos. Esses eventos, registrados entre 1º de janeiro de 2024 e 30 de setembro de 2025, foram detalhados no Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE, que se baseia em informações da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

A capital cearense, conforme previamente reportado, se sobressai como o epicentro desses deslocamentos compulsórios no estado. Fortaleza lidera o número de ocorrências, com 143 incidentes envolvendo expulsões de moradores, abrangendo 49 de seus bairros. O panorama mais crítico se concentra na Área Integrada de Segurança (AIS) 9, uma das dez divisões da SSPDS na cidade.

A AIS 9 contabilizou 33 desses eventos, que se manifestaram em localidades como José Walter, Canindezinho, Mondubim, Planalto Ayrton Senna, Loteamento Parque Montenegro, Vila Manuel Sátiro, Maraponga, Novo Mondubim e Parque São José. A reconfiguração territorial imposta pela criminalidade é uma realidade inegável que afeta diretamente a vida de milhares de famílias.

O Cenário de Deslocamentos na Região Metropolitana

Além da capital, outros municípios da RMF também enfrentam a severidade desse fenômeno. Maranguape, por exemplo, registrou 19 casos, destacando-se como a localidade com maior número de ocorrências de deslocamentos forçados fora de Fortaleza . O bairro Novo Maranguape, com 11 eventos, figura entre os mais impactados em todo o Ceará, superado apenas por Ancuri, José Walter e Vicente Pinzón, todos na capital.

Em Maranguape, a violência se estendeu a outros bairros, incluindo Gavião, Guabiraba, Maranguape II, Outra Banda e Parque São João. O relatório do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) também aponta para uma distribuição dos eventos em diversas cidades, conforme detalhado:

Município Eventos de Deslocamentos Forçados Bairros Afetados (Exemplos)
Fortaleza 143 José Walter, Canindezinho, Mondubim, Ancuri, Vicente Pinzón, entre outros
Maranguape 19 Novo Maranguape, Gavião, Guabiraba, Maranguape II, Outra Banda, Parque São João
Maracanaú 16 Pajuçara, Alto da Mangueira, Antonio Justa, Jaçanau, Alto Alegre II, Boa Esperança, Furna da Onça, Jari, Mucunã, Parque Tropical, Piratininga
Caucaia 15 Jurema, Curicaca, Parque Leblon, Araturi, Itambé, Paumirim, Tabapuazinho, Ypacarai
Sobral 7 Centro, Sumaré, Caiçara, Santa Casa
Pacatuba 2 Pavuna
Quixadá 2 (Não especificado no relatório)
Cascavel 1 Centro
Eusébio 1 Coaçu
Horizonte 1 Zumbi

A Dinâmica da Violência e a Ascensão dos Conflitos

O relatório, datado de 17 de outubro, não apenas quantifica as expulsões, mas também aponta para um "crescimento significativo" desses incidentes nos últimos meses. Os analistas do DRCO atribuem essa escalada à intensa rivalidade entre as facções Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP). A disputa por territórios e o controle de atividades ilícitas são os motores dessa violência que penaliza a população civil.

Um ponto de inflexão decisivo ocorreu em setembro, quando a Guardiões do Estado (GDE) decidiu se aliar ao TCP. Essa união intensificou os confrontos com o CV, especialmente em regiões como o bairro Vicente Pinzón e a comunidade do Lagamar, consolidando um cenário de guerra urbana que se reflete diretamente nos deslocamentos forçados de famílias.

O Caso Emblemático do Cidade Jardim I e as Prisões

Entre os "casos emblemáticos" de expulsões de moradores no Ceará, o relatório destaca os eventos ocorridos no residencial Cidade Jardim I, localizado no bairro José Walter, em Fortaleza . Este cenário de coação resultou na prisão de pelo menos sete indivíduos suspeitos de envolvimento com facções criminosas nas últimas três semanas, conforme apurado. As expulsões, segundo peças judiciais, ocorriam após moradores serem acusados de qualquer tipo de ligação, mesmo que por parentesco, com o CV.

As prisões ocorreram em diferentes datas: em 29 de outubro, Glairton Pires Barbosa Filho, Esdras Evangelista Sousa da Silva, Manoel Joaquim da Silva Neto e Francisca Erica Saraiva Martins foram detidos. No dia anterior, Iran de Moura havia sido preso, e Francisco Felipe da Silva Barbosa foi autuado em 22 de outubro. Por fim, em 13 de outubro, Matheus Teotônio Aguiar foi capturado. Todos foram identificados pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE) como membros do Terceiro Comando Puro (TCP), atuante no Cidade Jardim I em oposição ao Comando Vermelho (CV), que opera no Cidade Jardim II.

Lideranças e o Impacto na Vida Comunitária

Depoimentos de vítimas anexados aos Autos de Prisão em Flagrante (APFs), aos quais o Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE foi incorporado, indicam que as ordens para os deslocamentos partiam de João Paulo Félix Nogueira, conhecido como "Paulim das Caixas". Ele é apontado como o chefe do TCP no Cidade Jardim e encontra-se atualmente foragido das Forças de Segurança do Estado.

João Paulo já havia sido acusado de ser um dos mandantes da Chacina do Forró do Gago, que em 2018 ceifou a vida de 14 pessoas em uma casa de shows nas Cajazeiras. No entanto, ele foi impronunciado e liberado por falta de provas. As acusações contra ele se estendem, inclusive, à proibição de provedoras de internet não "autorizadas" por ele de operar no Cidade Jardim I, demonstrando o nível de controle exercido pelas facções sobre a vida cotidiana dos moradores.

A gravidade da situação no Cidade Jardim I contribuiu para que o bairro José Walter, juntamente com o Ancuri, liderasse o número de casos de deslocamentos forçados no estado. Ambos os bairros registraram 16 eventos de expulsões de moradores no período compreendido entre 1º de janeiro de 2014 e 30 de setembro de 2025, evidenciando a persistência e a intensidade desse fenômeno ao longo dos anos.

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